quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cinema nacional investe também em produções descartáveis

O cinema brasileiro é definitivamente imaturo. Pelo menos ainda. Estamos produzindo muito mais depois da retomada, nos anos pós-Collor, e chegamos muito mais longe do que sonhamos estar. Já estivemos na ante-sala do Oscar e os espectadores de todo o mundo foram brindados com produções marcantes que ajudaram a projetar o país, como Central do Brasil e Cidade de Deus. Profissionais nascidos aqui - desde eletricistas até diretores - hoje integram grande equipes internacionais, estando presente nos países vizinhos na América Latina, na Europa e até em Hollywood - vide Diários de Motocicleta.
Já temos também, infelizmente, as desvantagens de uma produção cinematográfica em ritmo industrial: temos obras-primas, outras cheias de boa intenção com resultado ruim e as descartáveis.
É incrível, mas como nos EUA ou na França (onde o cinema também cresceu muito na última década), aqui no Brasil temos tempo e dinheiro para produções descartáveis. Para citar o exemplo americano não é preciso puxar da memória os filmes bons e os ruins.
Já na terra de Truffaut, recentemente as companhias têm apostado em policias e comédias igualmente ocas. É o ônus de um cinema em desenvolvimento, cujas fitas passageiras crescem proporcionalmente aos bons títulos - mais raros, obviamente.
Nesta última categoria está Mais uma Vez Amor, o primeiro filme da morena Juliana Paes - uma atriz de uma beleza televisiva que só estourou devido às novelas globais, mas que carrega um carisma que, adaptado para a tela grande, perde pouco em seu personagem. Mas tudo fica mais fácil para atores assim quando o filme é contado em ritmo de novela.
A linguagem é muito próxima do horário nobre, e os rostos são conhecidos da telinha. A uma certa altura não se tem bem a noção do que estamos assistindo. Novela ou filme? Se o lanterninha não aparece, a sensação era de uma sala de visitas mesmo.
A história simpática mostra um casal que têm dificuldades para ficar junto, caminhando desde a amizade até o amor, passando pela paixão, pela atração sexual e as crises intra-paredes. Ciúmes, possessão, traição e amor livre também passam pelo enredo do romance, que tem ainda Dan Stulbach repetindo o mesmo papel de bobão de filmes como Viva Voz.
O desenvolvimento disso tudo, passando pela direção de Rosane Svartman até as falas fracas do roteiro, não decolam. Tudo é muito água com açúcar, flertando com a artificialidade e tentando imitar fórmulas manjadas de outras produções como "Pequeno Dicionário Amoroso" e A Partilha - esta classificada em outro nível muito mais alto. Aliás, tivemos uma enxurrada de comédias nesse estilo, saturando o gênero: Os Normais, Sexo Amor e Traição, Amores Possíveis e Avassaladoras são alguns, só pra lembrar.
A esta altura, pra entrar nesse mesmo barco, é preciso um remo um pouquinho mais trabalhado. Juliana até se arrisca a cantar com Roberto Frejat, diretor musical da trilha sonora (que aposta em clássicos do pop-rock dos anos 80, com Ed Motta, Lulu Santos, RPM, entre outros), e se sai bem no simpático tema do filme. Aliás, quem ouve duas ou três vezes a música periga esquecer o filme e ficar com a música mesmo. Aliada ao acabamento, sempre de primeira neste tipo de produção, a música forma um tempero que disfarça o fraco resto do filme. Mas nem só das belas paisagens do Rio e uma música bonitinha um filme se sustenta.
Mais uma... fica com tudo abaixo da média.É preciso lembrar que a grande responsável por essa inundação de fracas produções no cinema brasileiro é a rede Globo. Seja através de sua companhia dedicada ao cinema diretamente, a Globo Filmes, ou por seu numeroso elenco que brota das novelas e ganha o mercado procurando pequenos, médios e grandes papéis em aventuras cinematográficas, estampando uma "cara" pasteurizada para o nosso tipo de cinema. Dos filmes citados nesse artigo, por exemplo, a Globo teve o dedo em todos. Alguns se sobressaem pelo talento individual dos profissionais. Mas quando falta esse talento, falta o principal.
O filme fica vazio, e não há morena que empolgue.